“Só poderemos ver o fundo do mar
quando o mar estiver quieto,
da mesma forma que,
para podermos ver a essência do nosso ser,
a mente tem que estar quieta.”
(Horivaldo Gomes - Yoga integral)
"O Yoga é um sistema filosófico milenar Indiano. Inicialmente esse conhecimento era transmitido oralmente de mestre a discípulo, até que foi sistematizado por Patañjali no texto clássico Yoga-Sutra. No Yoga-Sutra o Yoga é definido como a cessação das flutuações mentais (Yoga Chitta-vrittti nirodhah)(1).
Segundo as escrituras védicas, além da mente há um estado de consciência que é a base de toda a existência e que, por natureza, já é sábio, eterno e feliz.
Contudo, esse estado de paz, frequentemente, está encoberto pelas oscilações da nossa mente que, completamente identificada com as atividades que realizamos, os acontecimentos externos, as relações que estabelecemos e os inúmeros papéis sociais que desempenhamos na nossa vida, encontra-se em estado de permanente agitação, sempre transitando entre o passado e o futuro, ocupada com a nossa identidade, pensamentos e emoções, buscando incessantemente a felicidade fora .
Mas tudo é impermanente, está em constante mudança e não temos controle sobre as circunstâncias externas. Se uma coisa desagradável acontece ou algo que desejávamos não acontece, a nossa mente, completamente identificada com as circunstâncias passageiras da vida, entra em estado de sofrimento.
No entanto, de acordo com a filosofia do Yoga, não somos nossa identidade e os pensamentos e emoções a ela relacionados. Mesmo que deixemos de desempenhar algum ou todos os papéis que formam a nossa identidade, existe algo fundamental que sempre continua existindo.
O Yoga clássico propõe um conjunto de práticas morais, físicas e mentais que exercitam o indivíduo física e mentalmente com o objetivo de dar condições ao praticante de controlar e transcender a própria mente(1).
Neste processo, embora haja um trabalho físico envolvido e benefícios associados, cada ação é realizada lentamente e mantida por certo tempo com foco na respiração e consciência da experiência física e mental do momento antes de passar para a seguinte, envolvendo também um componente mental que favorece a atenção plena no momento presente durante toda a prática(2).
Por meio do exercício da atenção plena, a prática do Yoga busca acalmar a agitação mental, levando o indivíduo a acessar o que existe por trás da sua mente e vivenciar o estado de paz, harmonia, felicidade e plenitude, que é sua verdadeira natureza.
Classicamente, o Yoga é praticado por meio de um sistema de oito partes (Asthanga) que é composto por uma disciplina ético-filosófica de abstenções (yama) e observâncias (niyama), posições do corpo (ásanas), controle da energia vital (pranayama), controle das sensações (pratyahara), concentração (dharana), meditação (dhyana) e controle da mente (samadhi), cuja prática contribui para diminuir a agitação mental promovendo as condições necessárias para o autoconhecimento e percepção da conexão do indivíduo com a energia criadora(3).
Pode-se observar que o Yoga tratado nos Vedas possui um sentido muito amplo e profundo. Portanto, o termo “Yoga” deveria indicar que se está abordando a prática na sua totalidade. Entretanto, o termo é hoje frequentemente utilizado para se referir somente à prática corporal. Isto provavelmente acontece porque, para muitos, esta é apenas a porta de entrada para o maravilhoso universo do Yoga.
Enquanto sistema filosófico o Yoga vai além dos efeitos terapêuticos obtidos com a prática, mas, por meio de exercícios articulares, respiratórios, de concentração, relaxamento e de alongamento, força e resistência muscular, contribui também para a saúde e bem-estar físico e mental. Alguns efeitos que são observados com a prática do Yoga são:
-Fortalecimento, desbloqueio e desintoxicação do corpo - fortalecimento dos músculos, melhora da flexibilidade, melhora da postura, melhora do padrão respiratório, favorecimento da circulação, atuação no sistema endócrino regulando a função das glândulas, fortalecimento do sistema imunológico.
-Desenvolvimento da consciência corporal e autoconhecimento -percepção das posturas inadequadas e tensões desnecessárias, bem como dos estados de prazer e relaxamento, equilíbrio da mente e emoções para lidar com as questões da vida (redução da ansiedade, estresse e depressão), aumento da sensação de vitalidade, desenvolvimento do sentimento de contentamento, gratidão e felicidade.
-Reencontro com a nossa própria essência e conexão com o todo.
Por causa de seus efeitos sobre a saúde, o Yoga é uma das terapias que vem sendo utilizadas pelo Ayurveda, a medicina praticada na Índia há 5 mil anos. Atualmente, diversos estudos vêm demonstrando que o Yoga pode contribuir para a promoção da saúde com benefícios físicos, filosóficos e sociais.
O Yoga é reconhecido como uma prática de saúde pela Organização Mundial de Saúde(5), pelo Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares(6,7,8) e pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, por meio da Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares (PEPIC)(9).
As Práticas Integrativas e Complementares apresentam-se como uma possibilidade de alicerçar as ações de saúde na singularidade e integralidade do indivíduo. Práticas de saúde que tem por base uma visão de mundo bio-energética estimulam o autocuidado, contribuem na modulação da resposta imunológica e suscitam mudanças no estilo de vida, fornecendo alternativas aos limites do modelo médico hegemônico(10)."
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Referências:
1. Patanjali. Yoga Sutra – o fio da conjunção. In: Martins RA (org). O Yoga tradicional de Patañjali. O Raja-Yoga Segundo o Yoga-Sutra e outros textos indianos clássicos. São Paulo: Shri Yoga Devi, 2012.
2. Iyengar BKS. A árvore do Ioga. A eterna sabedoria do ioga aplicada à vida diária. São Paulo: Globo, 2003.
3. Martins RA. O Yoga tradicional de Patañjali. O Raja-Yoga Segundo o Yoga-Sutra e outros textos indianos clássicos. São Paulo: Shri Yoga Devi, 2012.
4. Siegel P; Barros NF. Yoga e Promoção da Saúde, Introdução prático-conceitual. 1ª. ed. Campinas: ---, 2011. v. 110. 20p.
5. World Health Organization. WHO traditional medicine strategy: 2014-2023. Geneva. 2013.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2006.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 849, de 27 de março de 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2017. Seção 1, p.68.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº145, de 11 de janeiro de 2017. Altera procedimentos na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS para atendimento na Atenção Básica. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2017. Seção 1, p.32.
9. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Resolução SES/MG nº 1885, de 27 de maio de 2009. Aprova a Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares. Belo Horizonte (MG), 2009.
10. Walach H, Pietikäinen S. A roadmap for CAM research towards the horizon of 2020. Forsch Komplementmed. 2014;21(2):80-1.